APENAS UMA MULHER
A intervenção do Grupo Vagapara (Salvador/Bahia), Isto é apenas uma mulher, com o perdão da gíria, causou durante a Bienal Sesc de Dança. Com performances da intérprete e criadora Isabela Silveira no Centro Histórico e na área externa do Sesc, a mulher sentada sozinha em um banco de praça com o rosto coberto por um pano branco despertou as mais opostas e variadas reações do público.
Acompanhando a performance na entrada do Sesc, na Rua Conselheiro Ribas, pude flagar algumas delas. Uma senhora ficou com dó da moça, achando que ela havia passado recentemente por uma cirurgia plástica. Outra da Terceira Idade tinha a convicção de que era câncer de pele. O rapaz chegou a perguntar à bailarina: “Você vai matar a minha curiosidade e dizer o que está fazendo aí?”. Mas não teve resposta.
E as crianças! Riram da situação, choraram de susto, correram, sentaram ao lado da moça do rosto encoberto e de movimentos leves e rápidos. As crianças confirmaram o que já se sabe. Os adultos estão cada vez mais indiferentes ao outro e ao ambiente. Muita gente passou, ficou intrigada, no entanto, não procurou saber o que acontecia, nem para ajudar, se fosse o caso.
Menos resistentes, as crianças tentaram, mesmo que com medo do desconhecido, alguma aproximação. Fizeram o movimento. A grande parte dos adultos, não. Foi interessante observar, ainda, que outros passam na correria de seus afazeres tão importantes que não conseguem enxergar o que está a sua volta.
Quem venceu as barreiras e conseguiu aproximar-se constatou: “É uma moça, com dois olhos, um nariz e uma boca”.
Apenas uma mulher.
(Fernanda Mello)
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