Espaço de possibilidades e de reflexões
6a Bienal de Dança Sesc Santos – Espaço de possibilidades e de reflexões
Fazer parte da equipe que selecionou as propostas artísticas enviadas para a 6a Bienal de Dança do Sesc Santos me impulsionou a refletir sobre vários pontos. Exponho-os aqui, em poucos parágrafos, como forma de compartilhar questões, que considero pertinentes, sobre modelos de mecanismos para incentivar a produção de dança no Brasil.
Sublinhar a importância desse tipo de iniciativa do Sesc Santos é extremamente importante. Trata-se de iniciativa que promove encontros entre os profissionais; debates com especialistas, artistas e o público em geral; mostras de espetáculos, lançamentos de produções bibliográficas. Também possibilita criar um panorama a partir de algumas produções brasileiras de dança e permite ao participante, de modo geral, valer-se desse espaço também para refletir sobre essa arte.
O Sesc vem investindo arduamente na circulação dos diferentes modos de entender as danças que estão sendo produzidas em várias regiões do país, criando um diálogo necessário e propondo trocas de ideias num contínuo fluxo. São ideias que se cruzam, se permeiam, passam de raspão, se chocam, se hibridizam, se desconhecem e que conversam.
Dessa forma, discutir em conjunto a maneira de entender hoje os modelos e formatos dessas iniciativas seria, quem sabe, uma maneira de contribuir com o desenvolvimento de um outro jeito de pensar esses mecanismos já existentes, para que elas se tornem ainda mais louváveis.
Nesse sentido, indaga-se: é necessária essa reflexão? Haveria outro jeito de pensar essas iniciativas? Como entender a implementação de um eixo curatorial; a curadoria nesse contexto; o papel do “selecionador” ou “curador”? Do que se tratam o ato de selecionar e o de exercer a função de curador nesses casos? Como os artistas transitam nas categorias “espetáculo”, “performance”, “intervenção”, “inédito”, “trabalho de pesquisa e investigação”, “trabalho em processo”, “escrita de projeto”…? De que espaço um trabalho necessita? Será que ele vem necessitando de um espaço que permita sua exibição independente da proposta? Está-se produzindo dança para dar conta e se encaixar nas iniciativas ou as iniciativas estão atentas aos rumores da dança e, por isso, estão sendo lançadas? Será que são as iniciativas que estão determinando o desenvolvimento da dança ou é uma conversa de vai e vem?
Outros norteadores poderiam ser apontados, no sentido de entender que uma área de conhecimento se constroi justamente na articulação entre criação – produção e distribuição, sublinhando a importância de iniciativas que exponham a necessidade de avanços ainda não realizados. Mas trazê-los à reflexão é possível por estarmos nesse ambiente que vem montando vários andaimes para que as interlocuções sobre a produção de dança no Brasil se construa sendo compreendida como arte.
Ana Teixeira
Setembro/2009
Ana Teixeira é pesquisadora, doutoranda em Comunicação e Semiótica (2009-PUC/SP) e mestre pelo mesmo programa (2008). Formada em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (1991-UCS-RGS), e em Arts du Spectacle Mention Danse (2002-Université Paris VIII-França). Atuou como bailarina profissional entre os anos de 1988 a 2004, dentre as companhias que integrou destacam-se o Balé da Cidade de São Paulo e StaatsTheater Kassel (Alemanha). Foi Diretora Artística Assistente do Balé da Cidade de São Paulo (2003 a 2009). Atualmente é consultora para o programa “Dança Contemporânea” do Sesc-SP e pesquisadora para a “Enciclopédia Itaú Cultural de Dança”.
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